Não é a vida mais preciosa que o livre-pensar, mas, é essa prerrogativa que a qualifica.
Aviso aos navegantes!
Embora de conteúdo jurídico, este blog tem a pretensão de abrir o debate sobre questões relacionadas à família, aos relacionamentos, em qualquer de suas configurações, e, para isso, quero contar com a participação de todos, independentemente de arte, ofício ou profissão; ideologias ou credos; afinal, é do diálogo plural e democrático que nascem as idéias e valores que, de alguma maneira, hão de dar os contornos à sociedade que desejamos.
Bem-vindos!
terça-feira, 25 de maio de 2010
Pesquisadores tentam descobrir por que uns são fiéis e outros, não
24/05/2010 - 12h12
Pesquisadores tentam descobrir por que uns são fiéis e outros, não
Por Tara Parker Pope
The New York Times
Por que alguns homens e mulheres traem seus parceiros, enquanto outros resistem à tentação? Para encontrar a resposta, um crescente conjunto de pesquisas está focando na ciência do comprometimento.
Os cientistas estão estudando desde os fatores biológicos que parecem influenciar a estabilidade conjugal até a resposta psicológica de um indivíduo após flertar com um estranho.
Suas descobertas sugerem que, embora algumas pessoas possam ser naturalmente mais resistentes à tentação, homens e mulheres podem se treinar para proteger seus relacionamentos e aumentar sua sensação de comprometimento.
Estudos recentes levantaram questões sobre se fatores genéticos podem influenciar o comprometimento e a estabilidade conjugal. Hasse Walum, biólogo do Karolinska Institute, na Suécia, estudou 552 duplas de gêmeos para saber mais sobre um gene relacionado à regulação do corpo do químico cerebral vasopressina.
No geral, homens que traziam uma variação no gene tiveram menor probabilidade de serem casados, e aqueles que tinham se casado tiveram maior probabilidade de ter problemas sérios no casamento e mulheres infelizes. Entre os homens que traziam duas cópias do gene variante, cerca de um terço tinha passado por uma crise séria no relacionamento no ano anterior, o dobro do número visto em homens que não traziam a variação.
Embora muitas vezes esse traço genético seja chamado de “gene da fidelidade”, Walum disse que esse nome não era adequado: sua pesquisa focou na estabilidade conjugal, não na fidelidade. “É difícil usar esta informação para prever qualquer comportamento futuro nos homens”, ele me disse. Agora, Walum e seus colegas estão trabalhando para replicar as descobertas e conduzir estudos similares em mulheres.
Experiências
Apesar das muitas diferenças genéticas que influenciam o comprometimento, outros estudos sugerem que o cérebro pode ser treinado para resistir à tentação.
Uma série de estudos pouco comuns, liderada por John Lydon, psicólogo da McGill University, em Montreal, observou como as pessoas em um relacionamento comprometido reagem diante de uma tentação. Em um estudo, homens e mulheres casados altamente comprometidos foram solicitados a classificar a atratividade de pessoas do sexo oposto em uma série de fotos. Não foi surpresa descobrir que eles deram notas mais altas a pessoas que normalmente seriam vistas como atraentes.
Mais tarde, os pesquisadores mostraram imagens similares e disseram aos participantes que a pessoa da foto estava interessada em conhecê-los. Naquela situação, os participantes deram a essas fotos notas mais baixas que da primeira vez.
Quando eles se sentiam atraídos por alguém que poderia ameaçar o relacionamento, eles pareciam, de forma instintiva, dizer a si mesmos “Ele não é tão lindo assim”. “Quanto mais comprometido você está”, disse Lydon, “menos atraente você vai achar outras pessoas que ameacem seu relacionamento”.
Porém, alguns aspectos da pesquisa da McGill mostraram diferenças de gênero em como nós respondemos a uma ameaça de traição. Em um estudo com 300 homens e mulheres heterossexuais, metade dos participantes foi preparada para a traição ao imaginar um flerte com alguém que eles consideram atraente. A outra metade imaginou apenas uma conversa normal.
Mais tarde, os participantes foram solicitados a completar charadas de preencher com a letra que falta, como LO-AL e THR-AT.
Sem o conhecimento dos participantes, os fragmentos de palavras eram um teste psicológico para revelar sentimentos subconscientes sobre o comprometimento (charadas similares são usadas para estudar sentimentos subconscientes sobre preconceito e estereótipo).
Nenhum padrão surgiu entre os participantes que imaginaram um encontro rotineiro. Mas houve diferenças entre homens e mulheres que tinham imaginado uma paquera. Nesse grupo, os homens tiveram maior tendência a completar a charada com as palavras neutras LOCAL e THROAT (garganta, em inglês). Mas as mulheres que tinham imaginado o flerte tiveram probabilidade muito maior de escolher LOYAL (fiel) e THREAT (ameaça), sugerindo que o exercício tinha deflagrado preocupações subconscientes sobre o comprometimento.
É claro, isso não necessariamente prevê um comportamento no mundo real. No entanto, a diferença pronunciada nas respostas levou os pesquisadores a pensar que as mulheres podem ter desenvolvido um tipo de sistema precoce de alerta para avisá-las quando o relacionamento está ameaçado.
Outros estudos da McGill confirmaram diferentes em como homens e mulheres reagem a essas ameaças.
Em um estudo, atores ou atrizes atraentes foram trazidos para flertar com os participantes do estudo numa sala de espera. Mais tarde, foram feitas perguntas aos participantes sobre seus relacionamentos, especialmente como eles responderiam a um mau comportamento do parceiro, como se atrasar ou esquecer de ligar.
Os homens que tinham acabado de paquerar as atrizes foram menos complacentes em relação ao hipotético mau comportamento, sugerindo que a atriz tinham momentaneamente eliminado seu comprometimento. Mas as mulheres que tinham flertado tiveram maior probabilidade de perdoar e criar desculpas para os homens, sugerindo que a paquera tinha deflagrado uma resposta protecionista para o relacionamento.
“Achamos que os homens nesses estudos, podem ter tido compromisso, mas as mulheres tiveram o plano de contingência – a alternativa atrativa faz soar o alarme”, disse Lydon. “As mulheres implicitamente decodificam isso como uma ameaça. Os homens, não”.
A questão é se uma pessoa pode ser treinada para resistir à tentação. Em outro estudo, a equipe pediu a estudantes do sexo masculino e comprometidos com suas namoradas a imaginar encontrar uma mulher atraente num fim de semana em que sua namorada estava viajando. Alguns dos homens foram solicitados e desenvolver um plano de contingência ao completar a frase “Quando ela se aproximar, eu vou ... para proteger meu relacionamento”.
Pelo fato de que os pesquisadores não podiam trazer uma mulher de verdade para agir como a tentação, eles criaram um jogo de realidade virtual no qual dois de quatro ambientes incluíam imagens subliminares de uma mulher atraente. Os homens que tinham praticado a resistência à tentação giraram ao redor desses ambientes 25% das vezes para os outros, o número ficou em 62%.
"Autoexpansão"
Porém, pode não ser o sentimento de amor ou lealdade que mantém os casais unidos. Em vez disso, cientistas especulam que seu nível de comprometimento pode depender do quanto um parceiro melhora sua vida e amplia seus horizontes – um conceito que Arthur Aron, psicólogo e pesquisador de relacionamentos da Stony Brook University, chama de “autoexpansão”.
Para avaliar esta qualidade, foi feita uma série de perguntas a casais: Em que grau seu parceiro oferece uma fonte de experiências empolgantes? Em que grau conhecer seu parceiro tornou você uma pessoa melhor?
Em que grau você enxerga seu parceiro como uma forma de expandir suas próprias capacidades?
Os pesquisadores da Stony Brook conduziram experimentos usando atividades que simulavam autoexpansão. Alguns casais receberam tarefas simples, enquanto outros participaram de um exercício bobo em que foram amarrados uns aos outros e solicitados a se mover em colchões, empurrando um cilindro de espuma com a cabeça. O estudo foi armado para que os casais atingissem o tempo-limite nas primeiras duas tentativas, mas que conseguisse por pouco na terceira tentativa, resultando em muita comemoração.
Os casais receberam testes de relacionamento antes e depois do experimento. Os que tinham participado da atividade desafiadora reportaram aumento maior na satisfação com o amor e o relacionamento do que os que não experimentaram nenhuma vitória juntos.
Agora, os pesquisadores estão embarcando numa série de estudos para medir como a autoexpansão influencia um relacionamento. Eles acreditam que um casal que explora novos lugares e experimenta coisas novas obtêm sensação de autoexpansão, aumentando o nível de comprometimento.
“Nós entramos no relacionamento porque o outro se torna parte de nós, e isso nos expande”, disse Aron. “É por isso que algumas pessoas que se apaixonam passam a noite inteira acordados conversando e isso parece uma coisa maravilhosa. Acreditamos que os casais podem recuperar um pouco disso fazendo coisas desafiadoras e empolgantes juntos”.
© 2010 New York Times News Service
Fonte: UOL Notícias
___________________
Da boa desculpa de que homens são biologicamente preparados para perpetuar a espécie, passando pela cultura machista até desaguar na mais deslavada sem-vergonhice, penso que, com o afrouxamento cultural e crescente campanha pelo egoísmo somado ao hedonismo, "trair e coçar, é só começar!". Com a palavra, psicólogos, sociólogos, filósofos...os ou quem se arrisque a enfrentar tão antigo tema que desafia até mesmo as legislações mais severas em relação à traiçao (adultério, fornicação, prostituição etc.)
Bauman, em amores líquidos, dá uma boa pista para a compreensão da questão no contexto sócio-cultural da atualidade, mas, historicamente, ora é situada em um ou outro traço dominante das diferentes épocas.
Em textos anteriores busquei abordar o tema dos relacionamentos a partir da necessidade que vejo de que a afetividade e suas manifestações; o amor, suas qualidades e implicações; fossem objeto de estudo desde o ensino médio, exatamente porque entendo que a partir da compreensão do fenômeno, de sua experimentação em profundidade, esvaziaríamos fóruns e divãs.
Confesso, atecipadamente a minha surpresa, se a Ciência constatar que há um gen, enzima ou qualquer outra explicação biológica para a fato.
RMG
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário